Papo cabeça: profilaxia pré-exposição ao HIV
Você já ouviu falar da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV? No Dezembro Vermelho, mês de Combate à Aids, a Dr. JONES traz uma série de informações sobre essa estratégia de prevenção que você deve conhecer. Confira.
14/12/2023
Vamos falar de um assunto sério: você, leitor do blog Dr. JONES, já ouviu falar do Dezembro Vermelho?
Assim como o Setembro Amarelo, Outubro Rosa e Novembro Azul, que são meses dedicados a promover a conscientização sobre questões específicas de saúde mental e física — prevenção ao suicídio, câncer de mama e câncer de próstata —, o mês de dezembro traz o Dia Mundial de Luta contra a Aids, que acontece no dia 1º.
Por isso, dezembro tem sido dedicado a promover informação sobre prevenção, testagem e tratamento do HIV/Aids, que são especialmente importantes para o público masculino.
Isso porque, segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado recentemente, em 6 de dezembro, os homens representam mais de 70% dos casos de infecção pelo HIV no Brasil na série histórica de 2007 até junho de 2023.
Até os 39 anos de idade, os homens que fazem sexo com outros homens é o grupo mais vulnerável à infecção no sexo masculino, e, a partir dos 40 anos, começa a prevalecer a transmissão heterossexual, ou seja, sexo com mulheres.
Resumindo: todos têm que se cuidar, e uma das maiores revoluções nesse sentido, além do já conhecido uso da camisinha, é a profilaxia pré-exposição para o HIV (PrEP). Vem que a gente explica tudo sobre ela.✌️
O que é PrEP e para que serve?
Truvada, medicamento usado na PrEP. Foto: NIH/NIAID | Flickr | Sob licença CC BY 2.0 DEED.
A profilaxia pré-exposição é uma estratégia de prevenção ao HIV que consiste na tomada regular de uma pílula com medicamentos antirretrovirais antes das relações sexuais.
Além de disponibilizada pelo SUS, a PrEP, se tomada certinha, tem uma eficácia similar à da camisinha contra o HIV — e pode evitar a infecção no caso de relações sexuais desprotegidas e/ou em caso de ‘acidentes’, como o rompimento do preservativo.
A estratégia, porém, vai além disso. O usuário pega o medicamento para até 90 dias, e, para renovar, precisa voltar ao serviço de saúde para fazer exames e checar sua adesão à estratégia.
Quem pode tomar PrEP pelo SUS?
Desde agosto de 2022, qualquer pessoa, de qualquer sexo, identidade ou orientação sexual, a partir dos 15 anos de idade.
No entanto, é preciso que essa pessoa seja identificada como alguém com risco aumentado de contrair o HIV. Para isso, existe um fluxograma publicado pelo Ministério da Saúde, que mostramos abaixo.
Fluxograma da PrEP (clique para ampliar). Fonte: Brasil, 2022.
Quanto tempo devo usar a PrEP?
Foto: Artem Riasnianskyi | Unsplash.
No Brasil, existem duas versões da PrEP: a ‘tradicional’ e mais comum requer o uso contínuo do medicamento preventivo, todos os dias.
Também existe a PrEP sob demanda. Nesse caso, devem ser tomadas duas pílulas (dose dupla) entre 2 e 24 horas antes do sexo a ser feito e, no caso de o sexo acontecer, uma pílula 24 horas depois da dose dupla e outra 24 horas mais tarde.
Quem avalia a melhor estratégia é o serviço de saúde, de acordo com seu comportamento sexual, sua necessidade e os protocolos do Ministério.
Como fazer para tomar PrEP?
Foto: Annette Sousa | Unsplash.
O primeiro passo, caso você deseje usar, é falar com seu médico e aí comparecer a uma unidade do SUS.
Os profissionais de saúde vão fazer uma avaliação inicial considerando seu estilo de vida, os riscos de exposição ao HIV e até sua motivação para começar e continuar a profilaxia, porque, afinal, não pode falhar, né?
Ah, e claro, também vão olhar sua saúde como um todo, principalmente a sexual, com os exames que já mencionamos. Como é um método preventivo, a PrEP precisa ser tomada por pessoas que não têm o HIV.
A PrEP tem efeitos colaterais?
Foto: Brittany Colette | Unsplash.
Pode ter, a depender da pessoa. Mesmo assim, são poucos, e a maioria ocorre no início do uso, desaparecendo depois dos primeiros meses.
Entre os efeitos colaterais mais comuns e que não são graves, tem dor de cabeça, dor de estômago, perda de apetite, náuseas, gases, vômitos, tonturas e fadiga.
Agora, sim, se você começar a sentir esses sintomas de maneira forte ou persistente, precisa informar o médico.
O médico também vai observar sua função renal ao longo do tempo porque, para algumas pessoas, um dos componentes da pílula pode afetar os rins. Nesses casos, a PrEP é suspensa, e aí se permite a recuperação normal das funções.
Posso abandonar a camisinha, então?
Foto: Charles DeLuvio | Unsplash.
Olha, não é bem o ideal.
A PrEP é uma parte importante da chamada prevenção combinada, que é uma abordagem que combina diferentes estratégias para proteger contra infecções sexualmente transmissíveis (IST) e o HIV.
Ela é, de fato, eficaz contra o HIV… mas, sem a camisinha, você fica mais vulnerável a todas as outras ISTs, virais e bacterianas, que existem por aí, já que a PrEP não protege contra elas.
Por isso, a decisão de deixar o preservativo, de que forma, quando e com quem precisa ser muito bem avaliada e, de preferência, com conhecimento do seu médico. 🤜🤛
Com colaboração de Everton Ribeiro Moraes
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. (2018). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos.
Brasil. Ministério da Saúde. (2022). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pré-exposição (PrEP) de risco à infecção pelo HIV. https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/pcdts/2017/hiv-aids/pcdt-prep-versao-eletronica-22_09_2022.pdf/view
Brasil. Ministério da Saúde. (2023). Boletim Epidemiológico – HIV/Aids 2023. https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/boletins-epidemiologicos/2023/hiv-aids/boletim-epidemiologico-hiv-e-aids-2023.pdf/view
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS — Brasil (UNAIDS Brasil). (2023). Prevenção combinada. UNAIDS Brasil. https://unaids.org.br/prevencao-combinada/
Imagem/Destaque: Ben White | Unsplash.